AYRTON SENNA DA SILVA
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Super Speedway - Tributo
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Ayrton SENNA da Silva (Brasil)
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Nascido em 21 de março de 1960. Morto em 1º de maio de 1994, no GP de San Marino, em Ímola.
Senna foi um dos melhores pilotos de todos os tempos. Tinha a garra dos
campeões, o que parece faltar a quase todos os brasileiros que o
seguiram.
Abaixo fotos marcantes do momento de sua morte, e de seu enterro em São Paulo. São fotos que simbolizam
a tragédia e a adoração dos brasileiros e companheiros ao seu ídolo.
Ao final o relato da médica que atendeu Senna, e comentários sobre o cortejo e enterro em São Paulo.
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O momento do acidente. O carro acaba de ricochetear ao bater na curva Tamburello. Devido à alta velocidade
no momento do acidente - a curva era mais uma reta nesse ponto - o carro, mesmo totalmente desmanchado, ainda desliza dezenas de
metros até parar.
O piloto já está morto - embora oficialmente só iria
morrer horas depois no hospital, já que senão a corrida teria que ser
encerrada nesse instante - e apenas seu corpo mostra um pequeno espasmo ao
desfalecer após a peça da suspensão ter penetrado em seu cérebro no instante
do choque. |
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O estado da Williams de Senna, com que só disputou três GPs, após a batida. Seu lado direito, o mais
afetado, é uma massa disforme do que foi um carro de F-1.
Muito sangue na curva, mostrando que esse acidente não teria outra
conseqüência que não a morte do nosso Senna.
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A pista foi totalmente bloqueada, para a descida de um helicóptero, na
tentativa de acelerar o atendimento médico ao piloto. O helicoptero parou no meio da pista mesmo,
e por pouco ele não atingido pelo carro de Erick Comás, que foi liberado errôneamente para sair
dos boxes pela equipe.
O vôo do helicótero foi acompanhado por alguns minutos pelas câmaras de televisão, e foi uma das
cenas mais emocionantes e tocantes daquele fatídico domingo. |
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O cortejo, em carro dos bombeiros, realizado
em São Paulo, parou a cidade - além do Brasil todo - e levou às ruas da
capital paulista mais de um milhão de ardorosos fãs, que acompanharam seu
cortejo pelas maiores avenidas da cidade.
Pela televisão outros milhões de
brasileiros, além de fãs em muitos países do mundo, acompanharam esse
momento de adoração ao ídolo máximo do automobilismo. |
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Levando o caixão com o corpo de Senna, seus
amigos: Gerhard Berger, Emerson Fittipaldi, Rubens Barrichello e Alain
Prost.
Com certeza foi o único enterro de um piloto que trouxe colegas de outros
países para dar o adeus final ao ídolo em sua terra natal. |
O Relato da Médica que atendeu Senna no Hospital Maggiore
A médica Maria Teresa Fiandri, foi quem recebeu o piloto quando ele chegou ao
hospital Maggiore, em Bolonha, meia hora após o acidente. Ela foi a pessoa que
avisou ao mundo, há 30 anos, que Ayrton Senna não mais vivia. Foi por suas mãos
que ele passou ao chegar ao Hospital Maggiore, 32 minutos depois de bater no
muro da curva Tamburello, em Imola, a 35 km dali. Foi de sua boca que saiu, após
agonia de quatro horas, a notícia que abalou as estruturas da F-1, chocou o
mundo e deixou um país dobrado sobre sua própria dor.
A médica Maria Teresa Fiandri parou de trabalhar no Maggiore em 2001, depois de
36 anos de serviços. Naquele 1º de maio, era a chefe do setor de Anestesia e
Reanimação. Como sempre, desde que o circuito passou a receber a F-1, em 1980,
fazia parte das equipes que poderiam ser chamadas para atendimento em casos de
acidente. Naquele 1º de maio, não precisou esperar o bip chamá-la a qualquer
momento. Quando Senna bateu, ela levantou, vestiu o jaleco e estava pronta para
sair rumo ao hospital quando o piloto mexeu a cabeça pela última vez.
Fiandri estacionava seu carro no pátio reservado aos médicos do Maggiore quando
viu o helicóptero cor-de-laranja se aproximar. Trazia Senna e uma equipe de
reanimação que tentava mantê-lo vivo. No helicóptero mesmo ele já havia recebido
uma transfusão de 4,5 litros de sangue. Ayrton tinha batido na abertura da
sétima volta do GP de San Marino. Seu carro, na entrada da Tamburello, guinou
para a direita. Ele freou e reduziu marchas, de acordo com a telemetria. O
impacto frontal, às 14h12 locais, aconteceu a 216 km/h. A barra da suspensão
dianteira direita voltou-se contra o capacete, penetrou a viseira e atingiu sua
cabeça pouco acima do olho direito. Ele morreu na hora. "Da pista, o doutor
Gordini já tinha me avisado que havia pouco a fazer."
Mas, como todo médico, Maria Teresa Fiandri fez o possível, mesmo sabendo que o
quadro era irreversível. "Do ponto de vista cerebral, já não havia mais
atividade imediatamente após a batida. Ele chegou ao hospital com o pulso
fraquíssimo, quase sem pressão. Mas, depois, voltou ao normal. Só que não havia
mais atividade cerebral, era uma questão de tempo para que ele fosse legalmente
considerado morto."
Ela diz ter consciência de que participou de um episódio histórico, mas não
revela, no tom de voz suave e tranqüilo, nenhum tipo de emoção especial, não
diferente da que provavelmente teria se relatasse outros casos de pacientes que
passaram por suas mãos. E guarda, de Senna, uma imagem bem diferente daquela
transmitida pelos que viram seu rosto, horas depois do acidente: "Ele chegou a
mim pálido, mas belo e sereno".
Ele já havia recebido os primeiros socorros na pista e no helicóptero. Estava
pálido, mas belo, sereno... Um jovem bonito, com os cabelos revoltos, os olhos
fechados. É a imagem que ela guardou. Tinha um corte na testa, três ou quatro
centímetros. Mais nada. Era a única ferida. Chegou ainda de macacão. Mas quando
o viramos, vi que tinha muito sangue. E eu me perguntava: "Mas de onde vem tanto
sangue?" Saía de trás, da base do crânio. Lembro do macacão, quando lavamos,
para devolver à família, tinha tanto sangue... E eu disse à Monica, uma
assistente de enfermagem: "Não podemos entregar isso a eles assim". Mas era
colocar na água e a água ficar vermelha.
Ficou gravada na memória de todos aquele sangue na pista...
Pelo movimento da cabeça dele, logo após o carro parar de rodopiar, ela concluí
na hora que era algo muito grave. Ali ele já entrava em coma, mas o coma é um
fenômeno muito estranho. Por isso foi só quando viu o resultado da tomografia
foi que ela teve certeza de que não havia nada a fazer, embora o doutor Gordini
(Giovanni Gordini, que o atendeu na pista) já tivesse avisado-a que não tinha
volta. Foi feito um eletroencefalograma. Já não havia mais atividade elétrica.
Quando ele chegou, o pulso estava fraquíssimo e quase sem pressão. Mas antes do
eletro, tinha voltado tudo ao normal. Mas quando o eletro foi analisado
constatou-se que não havia nada a fazer.
A médica fala sobre o momento em que deu a notícia: "Eu me lembro de seu irmão,
não sei se ele tinha noção da gravidade da situação. Eu o levei para ver os
resultados dos exames. Expliquei que já não havia mais atividade elétrica. Mas
quem assumiu o controle de tudo foi uma moça, que parecia tomar as decisões
naquele momento (ela se refere a Betise Assumpção, então assessora de imprensa
de Senna, hoje casada com Patrick Head, um dos sócios da Williams)".
Não houve nenhuma chance de sobrevivência quando a equipe médica viu o resultado do eletro.
Mas, pela lei ele não estava morto, era preciso esperar o coração parar de
bater. Mas não havia nenhuma esperança mesmo. Foi imediata a profundidade do
coma na batida.
Nesse dia a dra Fiandri só conseguiu dormir tomando umas 20 gotas de Valium...
"Ele era um jovem, um piloto, ele em particular, um pouco herói, carismático. Eu
recebi muitas cartas do Brasil, gente me perguntando se ele tinha recuperado a
consciência. As pessoas tinham necessidade de saber algo".
A chegada a São Paulo, o Cortejo, a Emoção
O corpo deixou a Itália apenas no fim da tarde de quarta-feira, portanto 3
dias após sua morte, num caixão fechado. Quinta-feira, cinco horas da manhã, o
avião da Varig, que que trazia os restos mortais de Ayrton, chega a Guarulhos. O
Brasil recebe o corpo do herói com todas as formas de honrá-lo possíveis.
Soldados da polícia da aeronáutica carregam o esquife do avião até o solo
brasileiro. O corpo é depois transportado por cadetes da Escola da Polícia
Militar até o carro de bombeiros que o levaria à Assembléia Legislativa, no
bairro do Ibirapuera.
O cortejo, de pouco mais de 30 quilômetros, é acompanhado por cerca de 600 mil
pessoas nas ruas de São Paulo, e transmitido pela televisão, para todo o país, e
para vários outros países. Na Assembléia Legislativa, o velório têm sessões para
a família e amigos pessoais, para pilotos e celebridades e, a mais movimentada
de todas, para o povo, fã ardoroso do grande mito e herói popular. Com uma fila
de quase oito quilômetros, cerca de 200 mil pessoas prestaram homenagem ao
piloto.
O caixão, coberto com a bandeira do Brasil e o capacete de Senna, deixaria o
velório na sexta-feira, depois de ser visitado pelos pilotos e ex-pilotos
Emerson Fittipaldi, Gerhard Berger, Frank Williams, Ron Dennis, Rubens
Barrichello, Roberto Pupo Moreno, Jackie Stewart, Johnny Herbert, Michele
Alboreto, Damon Hill, entre outros, além de celebridades, como as ex-namoradas
Adriane Galisteu e Xuxa Meneghel, a apresentadora Hebe Camargo, o radialista
Osmar Santos e os políticos no poder na época: o prefeito Paulo Maluf, o
governador Luis Antônio Fleury e o presidente Itamar Franco.
Depois das salvas de tiros de fuzil e canhão, o corpo de Senna foi levado
novamente em um carro de bombeiros para o Cemitério do Morumbi. Os colegas
pilotos ajudaram a carregar o caixão para a sepultura. Pouco antes das 13h,
Senna era enterrado, não antes da última homenagem: a Esquadrilha da Fumaça
desenhava, num céu azul de São Paulo, um coração com o "S" de Senna. O local de
sepultura, em meio a um gramado, virou local de peregrinação e culto de
brasileiros e estrangeiros que veneram o piloto. Isto ocorreu mais fortemente
nos primeiros anos, entretanto até hoje muita gente ainda vai até o local, a
cada ano, prestar as merecidas homenagens a alguém ímpar no mundo, e mais ainda
em nosso país.
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